O que é o Oriente Médio?

GEOM UFU
6 min readApr 29, 2021

--

Frequentemente escutamos e usamos este termo para se referir àquela região situada na Ásia, que abrange a península arábica e que não tem uma delimitação muito clara. Se você, leitor, que nunca parou para pensar no assunto, pegou-se agora subitamente pensando “o que é o Oriente Médio?”, saiba que esta é uma pergunta de difícil resposta. Por isso o GEOM, Grupo de Estudos em Oriente Médio, da UFU, abre agora um quadro com uma série de textos sobre esta região tão importante e diversa, com a meta de informar pessoas de dentro e fora da comunidade acadêmica sobre a região, com textos curtos e didáticos. Para inaugurar este projeto vamos falar um pouco sobre qual a origem do termo “Oriente Médio”, seu uso moderno e esclarecer quais os países que o compõem.

A origem do termo não acontece na região em si, e nem remete aos próprios moradores, mas se encontra na Europa e na concepção de mundo eurocêntrica que categorizou a divisão do mundo em áreas organizadas pela sua importância para o cenário geoestratégico estava em alta, e segundo a distância do dito Oriente com relação ao continente europeu criou os termos Far East, Middle East e Near East, traduzido livremente como Oeste distante, Oeste médio e Oeste próximo.

A primeira cunhagem do expressão remete há apenas um século, em 1902, sendo atribuída ao almirante norte-americano Alfred Mahan, conhecido pelas suas contribuições para o campo da geopolítica. O sucesso do termo não só na linguagem acadêmica, mas em falas cotidianas se dá graças à força do imperialismo ocidental, e o poder que teve para construir o Oriente conforme sua visão de mundo.

Figura 1: Retrato do almirante estadunidense Alfred T. Mahan.

Fonte: Naval History and Heritage Command

Inicialmente, o termo “Oriente Médio” era utilizado para se referir ao espaço geográfico que corresponderia aos territórios compreendidos entre o Oriente Próximo, centrado na Turquia, e o Oriente Distante, com base na China. Dessa forma, designava basicamente a região compreendida entre a Arábia e a Índia, tendo como cerne o Golfo Pérsico. Não se pode perder de vista que é no final do século XIX que se populariza na Europa o fenômeno da Segunda Revolução Industrial, baseada em um maior uso dos produtos petroquímicos, isto é, que utilizam o petróleo. É exatamente por tal motivo que o Oriente Médio passa a ganhar cada vez mais importância com o nascer do século XX, passando a ser tratado como uma região estratégica e alvo de interesse das Grandes Potências, interessadas em conquistar os territórios até então pertencentes ao já fraco Império Otomano.

Não se pode deixar de ter em mente que a própria expressão é, por si só, considerada “eurocêntrica”, tendo sido cunhada e popularizada pelo mapa desenhado pelo imperialismo ao redor do mundo antes da Primeira Guerra Mundial. Como é amplamente discutido nas interfaces entre as Ciências Sociais e a Linguística, o ato de atribuir nomes e termos aos objetos constitui uma forma de criar relações sociais de poder, moldando a realidade. O uso de “Oriente Médio” para designar a região corrobora essa visão, uma vez que localiza toda uma gama de culturas em relação à Europa, ou seja, como se a Europa fosse o Centro global e aquela região, por estar a Leste, deveria receber a denominação “Oriente”.

Ao decorrer do século XX, consolidou-se a visão de que o dito “Oriente Médio” abrange a região da fronteira oeste do Egito até a fronteira leste do Irã, englobando o Estado de Israel, a Turquia ao norte, a península Arábica ao sul (com Kuwait, Arábia Saudita, Iêmen, Omã, Qatar, Bahrein e EAU) e o Levante no centro, formado por Síria, Palestina, Líbano, Jordânia e Iraque.

Quando se trata, modernamente, sobre a região, um equívoco bastante comum é de associá-la como sendo aquela pertencente aos povos árabes, no entanto, historicamente, existem três países no Oriente Médio que não são árabes: Israel, Turquia e Irã. O primeiro ainda é consideravelmente formado pelos descendentes dos judeus europeus que imigraram para a região na primeira metade do século XX. O segundo, herdeiro do Império Otomano, é o lar do povo turco que, apesar de majoritariamente muçulmanos, não são árabes, como muitas pessoas pensam, já que enxergam tais termos como sinônimos. A população do Irã também é formada por muçulmanos, do ramo xiita, mas são descendentes diretos do antigo Império Persa, portanto, não são árabes. Portanto podemos observar que a categorização dos povos da região como árabes não se aplica, e demonstra o fator da generalização, muito presente quando a região é abordada.

Figura 2: Mural retratando os arqueiros da Guarda Real Imortal do Palácio de Darius, capital do Primeiro Império Persa

Fonte: Weapons and Warfare

A partir da década de 90, entretanto, uma nova divisão do Oriente Médio começou a surgir nas bibliografias acerca do assunto, principalmente após o fim da Guerra Fria, quando pautas antes consideradas de “baixa importância”, como questões culturais, passaram a ganhar cada vez mais espaço. A nova interpretação, baseada em aspectos mais regionais e de identificação histórica entre os povos da região, cunhou o termo pelo qual a região é abordada em muitas obras recentes, principalmente após os eventos em sequência da Primavera Árabe.

Modernamente, na última década, observa-se um enorme crescimento da utilização da expressão Middle East and North Africa, popularmente chamada de MENA, para se referir à região, abarcando mais países que possuem tendências semelhantes aos dos países historicamente referidos como médio-orientais. Conclusivamente, a nova nomenclatura é baseada nas delimitações históricas árabes, as quais dividem a região entre Mashriq, ao leste, e Maghrib, ao oeste. Assim, Egito, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Qatar, Israel, Palestina, Arábia Saudita, Síria, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Bahrein, Argélia, Líbia, Mauritânia, Marrocos, Tunísia, Sahara Ocidental, Turquia e Irã estão incluídos na nova nomenclatura.

Figura 3: Mapa do Oriente Médio

Fonte: World Atlas

Tendo em vista tudo o que foi apresentado, podemos concluir que a origem do termo Oriente Médio tem raízes no eurocentrismo e tem seu uso popularizado pelo Imperialismo, fundado em uma visão sobre o oriente como lugar desprovido de particularidades, mas que apesar de não existir um consenso atual sobre o emprego do termo, seus habitantes, ao longo da história desenvolveram entre si um senso de identificação, apesar das diferenças, que leva a região para uma posição de cada vez mais destaque e importância no cenário internacional. Para saber um pouco mais sobre cada país atente-se às postagens que virão em breve!

REFERÊNCIAS:

CAMARGO, Cláudio. Guerras Árabe-Israelenses. MAGNOLI, Demétrio (Ed.). História das Guerras. 1. ed. Contexto, 2006, p. 425.

GASPER, Michael. The Making of the Modern Middle East. In: LUST, Ellen (Ed.). The Middle East. 14. ed. SAGE Publishing, 2017.

KOPPES, Clayton R. Captain Mahan, General Gordon, and the Origins of the Term ‘Middle East’. Middle Eastern Studies, vol. 12, no. 1, 1976, p. 95–98.

ROGAN, Eugene L. The Emergence of the Middle East into the Modern State System. FAWCETT, Louise (Ed.). International Relations of the Middle East. 4. ed. Oxford: Oxford University Press, 2016.

WORLDATLAS, How Many Countries Are There In The Middle East.

IMAGENS:

NAVAL HISTORY AND HERITAGE COMMAND, Alfred Thayer Mahan. Disponível em:

https://www.history.navy.mil/research/library/research-guides/z-files/zb-files/zb-files-m/mahan-alfred.html

WEAPONS AND WARFARE, The Persian (Achaemenid) Army. Disponível em:

https://weaponsandwarfare.com/2019/01/21/the-persian-achaemenid-army/

--

--

GEOM UFU
GEOM UFU

Written by GEOM UFU

Somos um Grupo de Estudos em Oriente Médio, idealizado por alunas do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

No responses yet