Raio x: República Islâmica do Paquistão

GEOM UFU
10 min readSep 27, 2021

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Autor: Mateus Medina Fuzatto

Ao Sul da Ásia em fronteira com Índia, Afeganistão, Irã e China, localizado em um espaço de intensa disputa, em que de um lado há luta em oposição à Índia para o controle da região da Caxemira após o processo embaraçoso de descolonização com a saída britânica, de outro, sua relação diversa com o Afeganistão, abrangendo geograficamente também parte da Cordilheira do Himalaia ao Norte, desertos ao Oeste e planícies férteis em torno do Rio Indo ao Leste, o Paquistão aflora como uma nação diversa.

Mapa indicativo da separação da Índia Britânica (https://kreately.in/chronology-of-events-that-resulted-in-division-of-unified-india-into-india-pakistan/)

O que anteriormente era o Paquistão Ocidental, atualmente, é a República Islâmica do Paquistão, da qual conta com 212 milhões de habitantes (população comparável com o Brasil) e uma área de 881.889 km2, configurando uma densidade demográfica de 286,5 habitantes por quilômetro quadrado. Sua população extremamente diversa possui cinco principais etnias: os punjabis, os pashtuns, os sindhis, os balúchis e os muhajirs, sendo que os punjabis representam metade da população do país, o que caracteriza sua língua denominada punjabi e a mais falada dentro do país, porém, a língua oficial do país é o Urdu tanto no governo como na educação. É importante localizar a capital do país, Islamabad, na região conhecida como Punjab, dividida com a Índia, na região nordeste com 1,015 milhões de habitantes conforme senso de 2017 (BRITANNICA, 2021).

O Paquistão, desde o início, teve uma conturbada história política, marcada por escândalos e golpes militares. Conforme a organização do governo após o golpe, Ayub Khan reforçou a centralidade da autoridade e fortemente apoio do governo norte americano com programas econômicos para desenvolvimento do país. Inesperadamente, suas políticas exacerbaram as disparidades entre as províncias, o que deu às reclamações da ala Oriental, uma potência que ameaçava o controle super centralizado que Khan queria estabelecer. Com o estouro da guerra contra a Índia em 1965, contando com inúmeros descontentamentos do Paquistão Ocidental e a instabilidade urbana no Paquistão Oriental, Ayub Khan renuncia ao seu cargo em março de 1969 (ASIA SOCIETY, 2021).

Como sucessor de Ayub Khan, Yahya Khan conduziu a segunda parte do regime militar no país, de 1969 até 1971, sendo que o país novo permaneceu sob 13 anos ao regime militar nos seus 25 anos de existência. Essa sucessão, no entanto, teve que lidar em como o regionalismo e o conflito social dominaram a política apesar dos esforços para controlar seu desenvolvimento. No Paquistão Oridental, a liga Awami consolidou maioria na assembléia nacional, e no Paquistão Ociental, o PPP (Pakistan People’s Party) tomou o lugar dos políticos islâmicos na região com seu discurso populista. Uma rebelião armada tomou conta da região ao Oeste, o que levou à intervenção militar da Índia no país, sua terceira guerra com este país. Ao fim da guerra, em 1971, o Paquistão Oriental declarou independência do Paquistão Ocidental e se tornou Bangladesh (ASIA SOCIETY, 2021).

Desenho representando a guerra sangrenta de independência de Bangladesh do Paquistão (https://www.dhakatribune.com/uncategorized/2014/04/16/telling-the-story-of-the-war)

A respeito da disputa pela região da Caxemira, o início do conflito nasce na formação do Estado-nação indiano e paquistanês em 1947, sendo que o interesse estratégico da região pelos recursos hídricos e geopolítica são de interesse de ambos os países com profundas desigualdades sócio-econômicas e, em especial a Índia, com uma população de 1,36 bilhões. No entanto, a dificuldade em estabelecer um consenso entre os países decorre da pluralidade étnica, linguística, e religiosa da região, o que impossibilita a elaboração de políticas públicas que acabem com os atritos. Vale salientar, ainda, que o processo de independência entre o Paquistão e Índia foram pacíficos, é a partilha do subcontinente que foi conflituosa entre as duas nações. A Caxemira, portanto, era governada pelo líder hinduísta Hari Singh, o qual aceitou a anexação ao território indiano, mas foi barrado pelo Paquistão pela afirmação da população muçulmana presente ali, que é maioria na região (OCI, 2019).

Em 2003, os dois países entraram em um consenso, em que o Paquistão prometeu não financiar mais os rebeldes islâmicos, e a Índia ofereceu anistia a todos os extremistas que renunciassem à militância. Em 2019, um ataque terrorista do grupo paquistanês Jaish-e-Mohammed (JeM)contra um comboio da Força Policial da Reserva Central (CRPF) indiana deixou 40 mortos e tencionou mais ainda a situação e, hoje, o futuro do conflito converge para que se intensifique cada vez mais, o que é preocupante pois ambos os países possuem armas de destruição em massa, como armas nucleares, dado que o anseio pela representação da identidade nacional muçulmana é o ponto base do Paquistão, e dos cachemires, já a Índia, não concede os direitos que foram atribuídos no processo de independência (OCI, 2019).

Mapa da região da Caxemira (https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacionais/jornal---v.-6-n.-5-outubro-de-2019.pdf)

Hoje em dia, o presidente do país é Arif Alvi, e seu Primeiro Ministro, Imran Khan. A Constituição em vigor é a de 1974, a qual identifica o Estado em termos de existência física e fronteiriço, os direitos fundamentais do povo, leis e normas constitucionais do Estado, uma estrutura constitucional e o estabelecimento de instituições e forças armadas do país. Portanto, o tipo de governo configurado na atualidade do Paquistão é a República Parlamentar Federal com organização dividida em províncias e territórios, e seu governo possui os ramos Executivo, Legislativo e Judiciário. A representação dos três pilares, sobretudo, são dados pelo Supremo Tribunal, o Parlamento e o Primeiro Ministro, sendo que o Parlamento possui poder de definir as alterações dos demais poderes, abrangendo a organização de departamentos governamentais, tribunais abaixo do Supremo Tribunal e instituições executivas (RIPLEYBELIEVES, 2021).

Moradia do Primeiro Ministro do Paquistão (https://www.wikiwand.com/es/Shahid_Khaqan_Abbasi)

Em respeito aos aspectos geográficos do país, estes nos ajudam a compreender tanto traços físicos como econômicos dos país, sendo que sua terra pode ser divida entre planícies, planaltos e montanhas, em que a partir dessas montanhas que estão localizadas no Norte do Paquistão geleiras, lagos e rios provém do derretimento do gelo. Especialmente, no Paquistão há três cadeias de montanhas principais ao Norte, sendo elas o Karakoram, os Himalayas and o Hindu Kush, em que no complexo de montanhas de Karakoram se encontra a 2º maior montanha do mundo, a K2, com 8611 metros de altura, onde o turismo prevalece na região. A oeste, junto à fronteira com o Afeganistão, a cadeia de montanhas possui altitudes mais baixas com no máximo 4760 metros, sendo as mais destacadas a Koh-e-safed, Montes Waziristan, Suleiman e Faixa de Kirtar. A respeito do entorno dessas montanhas ao Oeste, rios que abastecem a capital do país, Islamabad, como também à agricultura do país são formadas a partir do degelo das montanhas, apresentando minerais comerciais importantes como calcário, arenito e xisto betuminoso (GEOGRAPHY OF PAKISTAN-I, 2019).

Entretanto, a maior parte do Paquistão é composta por planícies, nomeada, portanto, de planície Indo, que pode ser separada entre Alto Indo e Baixo Indo. A planície do Alto Indo está localizada na parte nordeste do país e corta a província de Punjab, acoplando o Rio Indo com maior despejo de águas do Paquistão, sobretudo, com margens férteis para agricultura, abrangendo também a área desértica que recebe menos de 250 mm de chuva por ano e pouca vegetação. Sobre a planície do Baixo Indo situada ao sudeste do Paquistão, aqui o Rio Indo despeja sua água em um delta fértil no Mar Árabe, englobando uma região rica em calcário, circunscrevendo também uma região desértica (GEOGRAPHY OF PAKISTAN-I, 2019).

Coleção de imagens do território paquistanes

Tendo agora uma perspectiva básica da geografia paquistanesa, o principal setor econômico desta nação diversa topograficamente é a agricultura, a qual resulta em mais de 20% do PIB do país e mais de 60% da população vive de trabalho no setor agrícola, em que, especialmente, 47% de toda força de trabalho do Paquistão se concentra na agricultura. O país, além disso, possui um setor industrial desenvolvido, mas são majoritariamente ligadas ao agronegócio e são dependentes do setor agrícola, fato que deixa o país suscetível a problemas econômicos caso haja consequências negativas na produção agrícola, repercutindo nos demais setores econômicos do país. Todavia, mesmo com o setor econômico agrícola ser predominante no Paquistão, o país precisa suprir algumas necessidades que não conseguem, o que acarreta na importação de produtos, levando a uma balança comercial negativa e uma Reserva Internacional prejudicada (GEOGRAPHY OF PAKISTAN-I, 2019).

Como citado anteriormente, o Paquistão tem necessidade de importar alguns produtos mesmo com sua dependência ao setor agrícola. No entanto, a nação enfrenta alguns impasses, como a escassez de capital, pois os agricultores estão tendo pouco rendimento a ponto de dificilmente conseguirem se manter por si só, o que os impossibilita em investir em fertilizantes, sementes transgênicas, maquinário e pesticidas. Além disso, outro problema da agricultura no país é o alagamento e a salinidade da água, pois há momentos que a água do subsolo extravasa para a superfície e geralmente possui muito sal, o que torna a área incultivável. Estima-se que 1,5 milhões de hectares venham perdendo cada vez mais sua capacidade de cultivo por conta do fenômeno. A respeito de demais dificuldades do país, a distribuição desigual de riquezas, subutilização do solo, calamidades climáticas, escassez de terra irrigada, métodos primitivos de produção, falta de disponibilidade de crédito para a agricultura e instabilidade política são alguns dos impasses que este setor paquistanes sofre (GEOGRAPHY OF PAKISTAN-I, 2019).

É importante abordar, ainda, que o Paquistão foi palco de diversos eventos históricos por conta de sua localização e história no passado, como o surgimento do Talibã e a história de uma das ativista de Direitos Humanos mais conhecidas no mundo, Malala Yousafzai, a qual possui história intrinsecamente relacionada com a atividade do Talibã no Paquistão, país em que a organização se originou. Mas quem é Malala? Malala é uma paquistanesa que em 9 de outubro de 2012 sofreu uma tentativa de morte por parte de um atirador do Talibã quando estava a caminho de casa no ônibus escolar. A tentativa de assassinato se deu em razão do ativismo da jovem em defender o direito das mulheres estudarem, o que divergenciava ao regime do Talibã. Após a tentativa de assassinato da ativista paquistanesa, ela foi levada ao hospital militar de Peshawar e uma parte do crânio foi removida para tratar o edema no cérebro, posteriormente, sendo tranferida para Birmingham, na Inglaterra. Após uma série de cirurgias na tentativa de reparar o nervo facial esquerdo que estava paralisado, porém, felizmente, Malala não teve mais danos cerebrais (BIOGRAPHY, 2020).

Além disso, em março de 2013, Malala pode voltar aos estudos na mesma cidade, em Birmingham. Aos 17 anos, em 2014, Malala Yousafzai juntamente com o indiano Kailash Satyarthi receberam o prêmio Nobel da paz e, especialmente, o destaque está em Malala por ser a pessoa mais jovem a ganhar este prêmio. Em setembro de 2008, o Talibã começou a atacar escolas em que meninas estudavam em Swat, e Malala, aos 11 anos, discursou em Peshawar “How dare the Taliban take away my basic right to education?”. Em 2016, Malala entrou na Universidade de Oxford no curso “Philosophy, Politics, and Economics (PPE)” (Filosofia, Política e Economia), se formando aos 22 anos em 2020 (BIOGRAPHY, 2020).

Malala comemorando sua formatura (https://www.revistapazes.com/malala-apos-enfrentar-terroristas-pelo-direito-de-estudar-se-forma-em-oxford/)

ABC BLOGS. Los hunza, un pueblo que no envejece ni se enferma. Disponível em: https://abcblogs.abc.es/curiosidades-cosas-insolitas/2014/09/09/hunza-pueblo-enfermedades-longevidad?ref=https%3A%2F%2Fwww.google.com%2F. Acesso em: 23 set. 2021.

ASIA SOCIETY. Pakistan: A Political History. Disponível em: https://asiasociety.org/education/pakistan-political-history. Acesso em: 23 set. 2021.

ATA NEWS. Qual é o segredo dos hunza, o povo que não envelhece e vive uma média de 120 anos?. Disponível em: https://atanews.com.br/noticia/6085/qual-e-o-segredo-dos-hunza-o-povo-que-nao-envelhece-e-vive-uma-media-de-120-anos. Acesso em: 23 set. 2021.

BIOGRAPHY. Malala Yousafzai. Disponível em: https://www.biography.com/activist/malala-yousafzai. Acesso em: 23 set. 2021.

BRITANNICA. Paquistão. Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/Paquist%C3%A3o/482143#toc-294836. Acesso em: 23 set. 2021.

DAWN . Flashback: The Martial Law of 1958. Disponível em: https://www.dawn.com/news/664894/flashback-the-martial-law-of-1958. Acesso em: 23 set. 2021.

DHAKA TRIBUTE. Telling the story of the war. Disponível em: https://www.dhakatribune.com/uncategorized/2014/04/16/telling-the-story-of-the-war. Acesso em: 23 set. 2021.

ECO-BUSINESS. Low earnings and agricultural neglect push Pakistan into food insecurity. Disponível em: https://www.eco-business.com/news/low-earnings-and-agricultural-neglect-push-pakistan-into-food-insecurity/. Acesso em: 23 set. 2021.

GLOBAL EDGE. Pakistan: Government. Disponível em: https://globaledge.msu.edu/countries/pakistan/government. Acesso em: 23 set. 2021.

JAVED, M. et al. Geography of Pakistan-I: B.S/B.Ed./MSC Level. Department of Pakistan Studies Faculty of Social Sciences & Humanities, Islamabad, v. 1, n. 1, p. 1–154, nov./2019. Disponível em: https://aiou.edu.pk/SoftBooks/8663.pdf. Acesso em: 23 set. 2021.

KREATELY. Chronology Of EVENTS That Resulted In Division Of ‘Unified INDIA’ Into India & Pakistan. Disponível em: https://kreately.in/chronology-of-events-that-resulted-in-division-of-unified-india-into-india-pakistan/. Acesso em: 23 set. 2021.

OCI. Os conflitos na região da Caxemira. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacionais/jornal---v.-6-n.-5-outubro-de-2019.pdf. Acesso em: 23 set. 2021.

REAL WORLD FATOS. A verdade sobre Hunza, o povo que não envelhece. Disponível em: https://www.realworldfatos.com/2015/04/a-verdade-sobre-hunza-o-povo-que-nao-envelhece.html. Acesso em: 23 set. 2021.

REVISTA PAZES. Malala, após enfrentar terroristas pelo direito de estudar, se forma em Oxford. Disponível em: https://www.revistapazes.com/malala-apos-enfrentar-terroristas-pelo-direito-de-estudar-se-forma-em-oxford/. Acesso em: 23 set. 2021.

RIPLEY BELIEVES . Que Tipo De Governo O Paquistão Tem?. Disponível em: https://pt.ripleybelieves.com/what-type-of-government-does-pakistan-have-865. Acesso em: 23 set. 2021.

SPUTNIK NEWS. Paquistão ameaça Israel com armas nucleares por causa de artigo falso. Disponível em: https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/201612267282764-paquistao-ameaca-israel-armas-nucleares/. Acesso em: 23 set. 2021.

UM TANTO CURIOSO. Hunza, Oásis da Juventude, o povo que vive mais de 100 anos com muita saúde. Qual o segredo?. Disponível em: https://umtantocurioso.com.br/hunza/. Acesso em: 23 set. 2021.

WIKIWAND. Shahid Khaqan Abbasi. Disponível em: https://www.wikiwand.com/es/Shahid_Khaqan_Abbasi. Acesso em: 23 set. 2021.

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Somos um Grupo de Estudos em Oriente Médio, idealizado por alunas do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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