Autor: Rafael Vieira
A República Árabe da Síria é um país do Oriente Médio situado na costa leste do Mar Mediterrâneo, que possui uma extensão territorial de 185,180 km² e uma população de 17,500,657 habitantes, sendo a única nação da região a ter o baatismo como fundamento do regime político. Tendo só na sua capital Damasco uma população de aproximadamente 2 milhões de habitantes, o país tem sido foco de uma das guerras civis mais sangrentas e geradoras de refugiados da história, tendo sido iniciada em março de 2011.
A maior parte da população síria é de origem árabe, existindo também uma pujante minoria beduína, conhecidos como os nômades do deserto. O segundo maior grupo étnico em termos quantitativos no país é o dos curdos. Completam a composição étnica da Síria pequenos grupos de armênios, turcos e povos de outras origens. O principal idioma do país é o árabe e a densidade demográfica se encontra, em sua maior parte, ao lado da costa do Mar Mediterrâneio e no vale pertencente ao rio Eufrates.
Em termos de religião, são os muçulmanos que formam a maioria da população na Síria. 90% dos sírios são da religião islâmica e 74% destes são sunitas. Outros grupos religiosos islâmicos no país incluem os alauitas (cerca de 15% da população do país), os praticantes do xiismo duodecimano e os ismaelitas. Apesar da vertente sunita ser a religião da maioria dos sírios, as regiões de Al Suwayda e Al Ladhiqiyah são exceções, pois lá os drusos (Al Suwayda) e alauítas (Al Ladhiqiyah) formam a maioria religiosa.
Vale ressaltar também o cristianismo na Síria, com destaque para a presença de cristãos em Damasco e Aleppo. Os cristãos sírios são formados por distintos grupos, sendo eles os católicos romanos, os protestantes, os ortodoxos gregos (que formam a maioria dos cristãos), os católicos gregos e, por fim, os católicos sírios, que contam com a Igreja Católica Síria, sendo ela a maior Igreja Uniata da Síria.
Após a conquista de sua independência em 1946, a instabilidade passou a dominar o cenário político do país, na medida em que os grupos sociais, políticos e religiosos da região começaram a entrar em atrito na busca pelo poder. É então em 1970 que Hafez Al-Assad, militar do partido Ba’ath, orquestra um golpe e derruba os seus adversários políticos, se estabelecendo como líder do país, tendo como principais objetivos de governo a busca por empreender uma estratégia de segurança nacional e estabilidade, além de conseguir de volta o território das Colinas de Golã, perdido para Israel apenas 3 anos antes, na Guerra dos Seis Dias. Sendo assim, o governo de Assad teve um foco militar intenso, deixando pouco do orçamento do país para outras searas do desenvolvimento. A forma de governo solidificada desde então é a de uma república unitária semipresidencial que tem o Ba’ath como partido dominante, com a Síria sendo constantemente alvo de críticas pelo seu autoritarismo e pelo unipartidarismo vigente na prática.
Com a sua morte em 2000, foi o seu filho Bashar al-Assad que assumiu o poder, mantendo o projeto ditatorial personalista já bem estabelecido nos 30 anos de governo do seu pai de governo de seu pai, intensificando ainda mais a perseguição à dissidência política. E é nesse contexto repressivo que eclode a Guerra Civil Síria de 2011.
Num país onde 70% da população é composta de mulçumanos sunitas e 13% de mulçumanos xiitas (de maioria alauitas), o fato da família Al-Assad ser alauita e a maioria dos opositores ser sunita torna a guerra civil no país não só numa guerra entre sunitas e xiitas, mas também numa guerra de uma elite minoritária poderosa contra uma maioria fragmentada.
Vale mencionar que a atuação dos Estados Unidos na região se deu principalmente no combate indireto aos avanços do grupo Estado Islâmico (Daesh), apoiando, principalmente, as Forças Democráticas Sírias, que mantém autonomia de facto (porém sem reconhecimento internacional) da região conhecida como Curdistão sírio. Já o Irã — país de maioria xiita — é o principal interessado na manutenção do governo de Bashar Al-Assad, auxiliando-o em conjunto com a Rússia, o que garante a perpetuação da Guerra Civil no país devido aos interesses conflituosos de dois pólos opositores: de um lado, os EUA, dos outros, Rússia e Irã. A Guerra Civil Síria tem como principais participantes os seguintes grupos:
Grupos que se opõem ao regime de Bashar Al-Assad
Exército Livre da Síria — Oponentes iniciais do regime de Assad, formado por desertores das forças armadas da Síria e outros rebeldes
Forças Democráticas Sírias — Focada na consolidação da autonomia dos curdos, combateu os avanços do Estado Islâmico
Exército Nacional Sírio — Focado no conflito entre curdos e turcos, tem a finalidade principal de impedir a autodeterminação dos curdos
Frente Al-Nusra — Braço sírio da Al-Qaeda, busca implementar uma Sharia (lei islâmica) moderada nas regiões que controla
Estado Islâmico — Grupo que busca implementar uma versão estrita e mais radical da Sharia nas regiões que controla
UMA LINHA DO TEMPO DA HISTÓRIA RECENTE DA SÍRIA
1922: Fim do Império Otomano
1923: Estabelecimento do Mandato Francês da Síria e do Líbano
1945: Síria ganha independência e se torna membro fundador da ONU
1946: Últimas tropas francesas deixam o território sírio
1947: É fundado o partido Ba’ath, com sua ideologia de um socialismo pan-árabe
1949: Militares ganham o poder no país, derrubando a elite que antes governava
1954: Partido Ba’ath se torna o segundo partido mais forte no país após eleições
1958: Sentimento pan-arabista é forte no país e o partido Ba’ath promove união do Egito com Síria, fundando a República Árabe Unida
1961: Militares sírios rompem a união com o Egito, restaurando a República da Síria
1963: Golpe de estado orquestrado pelo partido Ba’ath, finalmente conseguindo o poder
1970: Hafez Al-Assad, militar do partido Ba’ath, dá golpe, derruba adversário político e se estabelece como líder
2000: Morte de Hafez, assume seu filho Bashar Al-Assad, continuando a ditadura personalista estabelecida por seu pai
2007: Bashar Al-Assad vence eleições com 97% dos votos, com enorme volume de críticas ao processo eleitoral
2011: Primavera Árabe se inicia na Tunísia e se espalha, chegando à Síria
18 de março de 2011: Após uma convocação de manifestação pelo Facebook, cidadãos sírios saem em manifestações por todo o país. Começam, então, os horrores da Guerra Civil Síria
O que esperar do futuro do país?
Com mais de 500 mil pessoas mortas ou desaparecidas, mais de 6,7 milhões de pessoas deslocadas internamente e mais de 6,6 milhões de pessoas refugiadas fora do país, a guerra na Síria gerou impactos muito além das fronteiras do país. Com o persistente apoio russo e iraniano, o governo de Assad tem um futuro garantido pela frente, e com a participação dos EUA para assegurar os seus interesses opostos aos dos iranianos e russos, o conflito se mantém em andamento, somado ao fato dos vários grupos rebeldes e seus interesses divergentes manterem a sociedade síria numa divisão persistente, sem uma unificação capaz de destituir o regime de Assad. Assim, o prognóstico mais provável é de uma contínua guerra civil onde nenhum dos lados se sobressai inteiramente, deixando o território fragmentado, com o medo cercando a vida da população — o que provoca uma reflexão constante não só de caráter geopolítico, mas, principalmente, de caráter humanitário.
Por fim, de forma a mostrar um pouco do que é a Síria de sua imagem recente de guerra constante, é interessante trazer algumas curiosidades a respeito do país. A primeira delas o fato de que a antiga língua do aramaico ainda é falada na Síria. Durante muito tempo, o aramaico foi a língua franca de diversas civilizações, incluindo a grega e a egípcia. Atualmente, a língua só é falada em pequenas comunidades na Síria, Irã, Turquia, Iraque, Armênia e Geórgia.
Outra curiosidade é que o nome do país, Síria, vem da palavra Assíria, que era um antigo reino no norte da Mesopotâmia. Por fim, como últimas curiosidades, temos duas a respeito de mesquitas na Síria: a Mesquita dos Omíadas (também chamada de A Grande Mesquita de Damasco) é a mais antiga mesquita de pedra que ainda permanece de pé. Construída entre os anos de 705 e 715, é frequentemente considerada como o quarto local mais sagrado do Islã. Vale destacar que em 2001 o Papa João Paulo II se tornou o primeiro papa a entrar numa mesquita quando ele visitou a Mesquita dos Omíadas.
FONTES UTILIZADAS:
27 interesting facts about Syria. The Facts Institute. Disponível em: <https://www.factsinstitute.com/countries/facts-about-syria/>. Acesso em: 19 de janeiro de 2022.
Apreensões Autoritárias: Ideologia, Julgamento e Luto na Síria. Monitor do Oriente Médio, 12 de maio de 2020. Disponível em: <https://www.monitordooriente.com/20200512-apreensoes-autoritarias-ideologia-julgamento-e-luto-na-siria/>. Acesso em: 19 de janeiro de 2022.
Religion in Syria. Study Country. Disponível em: <https://www.studycountry.com/guide/SY-religion.htm>. Acesso em: 19 de janeiro de 2022.
Síria. Britannica Escola. Disponível em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/S%C3%ADria/482622>. Acesso em: 19 de janeiro de 2022.
Syria. Britannica. Disponível em: <https://www.britannica.com/place/Syria>. Acesso em: 19 de janeiro de 2022.