Vestuário Típico Árabe — Muçulmano

GEOM UFU
9 min readMar 14, 2022

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Texto por: Isabela Queireza e Mariana Carvalho

Em todo o mundo existem mais de 190 países, cada qual com seus aspectos culturais típicos, alguns com grande semelhanças entre si. Um dos pontos culturais mais visíveis são as vestimentas, que são uma manifestação do resultado entre as escolhas independentes de seus habitantes que são baseadas nas tradições e na história de cada localidade. O presente texto busca introduzir, de maneira geral, as vestimentas do mundo árabe mulçumano e os seus principais significados.

Nas sociedades muçulmanas o vestuário representa o status socioeconômico de sua população. Além disso, as roupas são retratos das relações de gênero, atração sexual e diferenciação entre esses povos e outras culturas, apresentando, também, uma importância intrínseca na vida cotidiana e nas celebrações. Todo o ciclo de vida está representado em suas vestimentas; a infância é marcada por uma maior liberdade nas escolhas, não há limitações de gênero nesse período. Porém, com o seu desenvolvimento, maiores restrições e diferenciações são atribuídas, as quais atingem seu ápice no período de maturidade sexual e fecundidade (MARTIN, 2016).

Um ponto muito importante para se compreender um pouco mais sobre esses trajes típicos, é entender que nos países do mundo árabe islâmico existem não só restrições normativas, mas também jurídicas. Algumas dessas restrições do meio jurídico são: a necessidade de se estar sempre com a púbis coberta, respeitar as leis da modéstia e a estrutura patriarcal e demonstrar, sem arrogância, a grandeza de Deus por meio da vestimenta. Essas tradições seguem modelos das primeiras gerações de muçulmanos, tendo sido inspiradas até mesmo pelo profeta Maomé (MARTIN, 2016).

As roupas são usadas sobrepostas uma à outra, de maneira que todo o corpo esteja coberto, o mesmo vale para a cabeça. Normalmente, os homens utilizam a imama e as mulheres os hijabs, niqabs, entre outros. Existem algumas parcelas da sociedade que são consideradas “desonestas”, como cantoras e dançarinas, que não precisam seguir essas regras. É muito importante para esse povo que haja a purificação de suas roupas antes das orações, mesmo que simbolicamente, e a retirada dos calçados. Na peregrinação para Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos, também exige vestimentas específicas, os homens precisam vestir o ihram, composta por duas peças de cor branca, não podem raspar os pêlos do corpo e usar perfumes. As mulheres seguem a mesma tradição, mas podem ser dispensadas de usar o ihram caso não cubra todo o corpo (MARTIN, 2016).

Também existem diretrizes a serem utilizadas no preparo para cerimônias fúnebres, é preciso lavar o cadáver, perfumá-lo e testá-lo com três peças para os homens, e cinco para as mulheres. Durante um período de três dias de luto, todos são proibidos de trocar de roupa, usar joias e perfumes. As viúvas necessitam passar por um período chamado qidda, destinado a garantir que ela não está grávida do falecido marido para que possa voltar a utilizar perfumes, maquiagens ou jóias (MARTIN, 2016).

As cores também têm significados diferentes, a cor branca é a mais utilizada, tanto no dia a dia, como nos enterros, pois simboliza a paz, a pureza, a virgindade e a sacralidade. O verde é visto como a cor de Maomé, representando a fertilidade, o crescimento e a natureza. Já o preto possui significados contraditórios, apesar de ser associado com a morte, a escuridão, é também uma representação de respeito pelo outro. Por último, o vermelho representa o nascimento e o amor, sendo muito utilizado por mulheres férteis (MARTIN, 2016).

No que se refere ao calçado, tem-se uma significação muito interessante, foram, primeiramente, aliados da praticidade diária, mas também passaram a representar crenças populares, como a proibição de se utilizar apenas um sapato ou a necessidade de se calçar primeiro o par direito e depois o esquerdo. Os sapatos femininos precisam esconder as pernas e não podem conter adornos que façam barulho ao caminhar e os masculinos devem enfatizar as pernas e necessitam de adornos que emitam som (MARTIN, 2016).

Sobre os pêlos corporais existem também aspectos culturais específicos, os pêlos pubianos precisam ser removidos, por conta do prazer sexual e do mau cheiro. No que diz respeito a barba e bigode, os homens devem mantê-los, pois isso é uma diferenciação dos traços masculinos, e as mulheres retirá-los. O ato de raspar e cortar os cabelos são vistos como uma simbolização da verdadeira fé, que estão prontos para se sacrificarem.(MARTIN, 2016)

Falemos, agora, especificamente das peças de roupas mais conhecidas e mais comuns do mundo árabe. Nesse sentido, esse tópico pode ser iniciado pelo Hijab, que, em árabe, significa “cobertura” ou “roupa que tape”. O hijab não é uma peça específica e sim uma norma de cobrir os cabelos — e, consequentemente, o corpo feminino — que se adapta de diversas formas de acordo com a região geográfica, a crença religiosa ou ambiente cultural de quem o usa. Não obstante, o hijab também recebe outros nomes como purdah no Afeganistão, Índia e Paquistão (EL PAÍS, 2016).

O Hijab é o termo mais popular que o ocidente usa para se referir ao véu islâmico. No entanto, como mencionado, o hijab não é apenas um lenço que cobre cabelos e pescoço deixando o rosto à mostra e sim uma norma que exige que as mulheres muçulmanas se cubram. Sendo assim, o hijab apresenta três dimensões: a visual, a espacial e a ética. De acordo com Fatema Mernissi, o hijab vem do verbo hajaba (o mesmo que to hide, no inglês), assim a primeira dimensão se trata do objetivo de ocultar algo da visão. A segunda dimensão visa a separação, a diferenciação, definir o acesso. Já a ética é sobre o campo do proibido, o véu determina uma fronteira de proteção, separando o que deve ou não ser visto (EL PAÍS, 2016), (FERREIRA, 2013).

O hijab pode ser encontrado em várias cores e estampas, assim como pode ser amarrado de formas diferentes. Inclusive, a amarração do hijab pode estar relacionada com o local de origem dessas mulheres e recebem nomes próprios (JORNAL DCI,2021). Junto a ele, as mulheres, por vezes, também usam roupas que cobrem todo o corpo, exceto pelo rosto, mãos, pulsos e pés (MATTEO, 2020).

O Niqab ou Nekab é um véu que cobre todo o rosto, deixando apenas os olhos à mostra e é amarrado atrás da cabeça com um laço. Esse véu é uma influência do wahhabuí, uma vertente radical do islã, que foi difundida na região da Arábia Saudita por volta de 1970, sendo uma herança dos sauditas que viviam no deserto (EL PAÍS, 2016). O Niqab pode ser considerado uma versão do Niaq, que é uma vestimenta que cobre todo o corpo, geralmente na cor preta, cujo uso é lei na Arábia Saudita. Assim, o Niqab seria a versão em que parte do corpo fica amostra (JORNAL DCI, 2021). Para os homens também existem regras, o Niqab deve ser usado com outra vestimenta de corpo inteiro, escondendo joelhos, ombros e umbigo, além do uso de turbante (MATTEO, 2020).

Burca é um termo popular para os véus de corpo inteiro. Ainda assim, no Golfo Pérsico, as burcas são as máscaras que as mulheres usam para cobrir os rostos, que são diferentes dos véus. A peça, geralmente azulada, é exigida pelos Talibãs, especialmente no Afeganistão e no Paquistão. Além de cobrir todo o corpo, ainda existe uma rede nos olhos (EL PAÍS, 2016). O uso de roupas para cobrir partes específicas do corpo é uma regra presente no Alcorão, sendo também um ponto de identificação social do grupo religioso e reconhecimento da identidade cultural (FERREIRA, 2013).

Outra peça comum no mundo árabe é o Chador. Este é uma tela circular que envolve a cabeça e cobre todo o corpo se sustentando apenas por duas dobras no pescoço, deixando o rosto à mostra, geralmente acompanhadas por uma túnica e um lenço por baixo. Peças coloridas podem ser usadas para ficar em casa ou ir à mesquita, enquanto peças pretas devem ser usadas para aparições públicas. Após a Revolução Islâmica no Irã, o Chador se popularizou no Líbano, no Iraque, no Bahrein, na Arábia Saudita e em outras regiões. Sob esse aspecto, na Arábia Saudita e no Iraque, as sunitas utilizam uma peça similar chamada de abya. Já na Tunísia e na Argélia, a peça semelhante é usada na cor branca ao invés de preta (EL PAÍS, 2016).

Nessa cultura, outras peças como o Al-Mira (que é composto por duas peças e cobre cabeça e pescoço, sendo utilizado pelas mais jovens), a Shayla (que é um lenço popular na região do Golfo, enrolado no pescoço e cruzado nos ombros), a Icharb (que são túnicas semelhantes às masculinas, junto com um lenço na cabeça) e a Cafia (um traje comum no Oriente Médio, que é composto por um pano e uma tira de egal, juntamente com uma touca que prende o cabelo. A versão xadrez é típica dos palestinos) são bastante presentes no dia a dia, na cultura e na identificação desses povos, ainda que não haja uma popularização da sua identificação no ocidente como peças características (EL PAÍS, 2016) (SUPERINTERESSANTE, 2001).

Na moda masculina, pode-se destacar, a princípio, a Túnica. Esse vestido com mangas que cobre todo o corpo, geralmente em cores claras (para evitar o aquecimento), é uma roupa extremamente característica da vestimenta masculina na cultura árabe. Dependendo do corte e do material, essa roupa pode receber nomes como caftan, djellabia, dishdasha ou gallibia variando conforme a região. Além disso, essa peça é, constantemente, acompanhada do uso do turbante. A longa tira de pano, de origem desconhecida e que já existia muito antes do islã, é usada enrolada sobre a cabeça, com diferentes amarrações que representam diferentes linguagens. O turbante pode indicar a posição social, a tribo a que pertence ou até mesmo o humor da pessoa e pode ser usado em conjunto com o Tarbush, um pequeno chapéu de pano ou feltro. Além disso, também se usa a Cirwal, que é a calça larga que acompanha a túnica, feita para permitir maior liberdade de movimentos (SUPERINTERESSANTE, 2001).

Quando vão à Meca, os fiéis devem estar descalços e sem qualquer adorno, cobertos apenas por duas toalhas brancas. Essas toalhas são chamadas de Ihram e na cultura árabe, acredita-se que ele pode retirar todos os sinais de riqueza e poder do corpo, tornando todos iguais perante Alá. Além disso, existem outras vestimentas, geralmente adornos para a cabeça, como: o Gahfiya e o Ghtrah que são usados em conjunto (o primeiro sendo uma touca branca e o segundo um lenço de algodão para manter o Gahfiya no lugar) e o Igal, que também pode ser conhecido como Agal ou Ogal (uma corda de lã de camelo ou de ovelha usada em volta da cabeça, a qual acredita-se que era usada pelos beduínos para prevenir a fuga dos camelos). Por fim, o Kandoora, um vestido usado por homens, parecido com as túnicas, que são confeccionados em tecidos mais grossos e escuros no inverno e diferindo entre regiões, é mais uma das vestimentas típicas usadas por homens árabes e muçulmanos (SUPERINTERESSANTE, 2001) (CATRACA LIVRE, 2015).

Atualmente, nota-se uma ocidentalização do vestiário árabe, com a maior globalização e acesso a conexões diretas com o mundo ocidental, essa população teve contato com essas mudanças culturais. Nas mulheres, essas mudanças iniciaram na esfera privada, onde há menos regras, e depois alcançaram a esfera pública. Os menos afetados por essa mudança foram a população que vive em regiões remotas, enquanto os mais afetados, foram a geração mais jovem. Porém ainda pode ser vista uma tentativa, pela sociedade mais velha, de se manter essas tradições. (MARTIN, 2016)

REFERÊNCIAS:

CATRACA LIVRE. Entenda a roupa usada pelos homens árabes. Disponível em: https://catracalivre.com.br/criatividade/entenda-a-roupa-usada-pelos-homens-arabes/. Acesso em: 07 de mar. 2022.

EL PAÍS. Como identificar os diferentes tipos de véus islâmicos. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/16/internacional/1471347181_490989.html?outputType=amp. Acesso em 07 de mar. 2022.

FERREIRA, Francirosy Campos Barbosa. DIÁLOGOS SOBRE O USO DO VÉU (HIJAB): EMPODERAMENTO, IDENTIDADE E RELIGIOSIDADE. Revista de Ciências Sociais. Universidade Estadual Paulista. v.43 (2013) ed. 2013. p. 183–196. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/perspectivas/article/view/6617. Acesso em 07 de mar. 2022.

JORNAL DCI. Por que as mulheres muçulmanas usam hijab?. Disponível em: https://www.dci.com.br/dci-mais/cultura/saiba-por-que-as-mulheres-muculmanas-usam-hijab-ou-veu/186456/amp/. Acesso em 07 de mar. 2022.

MARTIN, Richard (ed.). Encyclopedia of Islam and the Muslim WorldB. 2.ed Gale: Cengage Learning, 2016. p. 221–225

MATTEO, GIOVANNA. ENTENDA A DIFERENÇA ENTRE HIJAB, NIQAB E BURCA. Disponível em:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/amp/noticias/almanaque/entenda-as-diferencas-entre-hijab-niqab-e-burca.phtml. Acesso em 07 de mar. 2022.

SUPERINTERESSANTE. Quais são os trajes típicos dos países islâmicos e o que representam?. Disponível em:

https://super.abril.com.br/cultura/quais-sao-os-trajes-tipicos-dos-paises-islamicos-e-o-que-representam/amp/. Acesso em 07 de mar. 2022.

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Somos um Grupo de Estudos em Oriente Médio, idealizado por alunas do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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